terça-feira, 12 de novembro de 2013

FORMAÇÃO LITÚRGICA

A partir desta data estaremos publicando uma sequência de textos direcionados à formação litúrgica de todos os membros da nossa querida pastoral, como também à todos católicos que queiram se aprofundar mais sobre as origens, vivência e diretrizes da Igreja Católica no mundo. INTRODUÇÃO À LITURGIA. 1. No principio dos seus Exercícios Espirituais, S. Inácio de Loiola define com poucas palavras o dever do homem para com o seu Criador. "O homem foi criado para louvar a Deus, Nosso Senhor, prestar-Lhe reverência e servi-Lo e, fazendo isto, salvar a sua alma. A s outras coisas na terra foram criadas por causa do homem e para o ajudar na consecução do fim, para o qual foi criado”. Estas palavras são unia introdução adequada à Liturgia sacra. Pois o homem, criatura de Deus que é, depende dele completamente; a sua dependência deve-a reconhecer e manifestar. Pela reverência interior reconhece a soberania de Deus sobre a sua alma, fazendo, por exemplo, os atos de fé, esperança e caridade; é o culto interior. Pelo louvor e serviço manifesta os sentimentos de sujeição por meio de sinais sensíveis; é o culto exterior. O homem não está sozinho na terra; há "outras coisas, criadas por causa dele." Estas outras coisas são, em primeiro lugar, os outros homens, vivos e mortos; em segundo lugar as criaturas irracionais, vivas e inanimadas. Devem auxiliá-lo na consecução do seu fim; devem, portanto, em ação comum com ele, servir a divina Majestade. Este serviço comum de todas as criaturas é serviço de Deus, é Liturgia, na acepção mais lata, embora imprópria, porquanto inclui todos os deveres do homem. Nesta disciplina, porém, tornamos a palavra Liturgia no seu sentido próprio, significando um dever especial, o culto direto do Criador, cujos atos abrangemos com o nome de Virtude de Religião.
§ 1. NATUREZA DA LITURGIA.

2.       I. Definição nominal. A palavra Liturgia significava:

          1) Na antiguidade, uma função profana, pública, não remunerada, p. e., a função de juiz, de festeiro de jogos públicos, de diretor de teatro, de armador de navio, mesmo de operário público. Pois a palavra Liturgia deriva-se de leiton = do povo; e érgon = a obra, o ministério; e denota qualquer ministério exercido em nome ou em favor da comunidade.
          2) Em o novo testamento, um encargo público, embora profano, na comunidade religiosa. Assim o cuidado dos pobres na cristandade de Corinto tem este nome, 2 Cor 9, 12: "ministerium huius officii".
          3) Uma função pública sacra da Igreja: a pregação da palavra divina, as orações dos clérigos, principalmente o sacrifício. Já no antigo testamento o serviço dos sacerdotes e levitas no santuário se chama Liturgia (Ex 28, 39), em o novo testamento o serviço sacro de Zacarias é Liturgia (Lc 1, 23); principalmente Jesus Cristo é chamado leitourgos. (Heb 8, 2.) Os Santos Padres muitas vezes falam da Liturgia sacra, entendendo todo o serviço sacro do clero.
          4) O sacrifício do novo testamento. Nas constituições apostólicas (c. 380) a missa é chamada Liturgia. Desde o século 9° os gregos usavam este termo para designar a missa.

3.       II. Definição essencial. Esta é formada do gênero próximo e da diferença específica. Tal é a seguinte definição: Liturgia é o culto da Igreja. "Culto" é a noção genérica, pois culto pode significar uma série de atos (obj. mat.), ou uma homenagem prestada (efeito do culto), ou a inclinação interior para esta homenagem. Na definição entra "culto" no primeiro sentido. "Igreja" é a noção específica, pois o culto da Igreja não é culto só interior, mas também exterior; não é culto individual e privado, mas social e público; não é arbitrário e natural, mas prescrito e oficial. Estes termos: exterior, público e oficial estão incluídos na noção de "Igreja", que necessariamente tem estas qualidades. (Cf. Hansens, Gregorianum, 1927, p. 204-228; Coelho I; Eph. Lit. 1927, p.405-412.)


§ 2. ORIGEM DA LITURGIA.


4.       Do que fica dito, se vê a veneranda origem da Liturgia católica.

1. As partes essenciais da missa foram instituídas pelo próprio Jesus Cristo, quando, na véspera da sua sagrada paixão, disse a primeira missa na presença dos apóstolos. O Padre Nosso, parte integrante de todas as Liturgias, foi ensinado por ELE. Os santos sacramentos, quanto à forma essencial, foram todos instituídos por Nosso Senhor.

5.       2. Estas partes essenciais, no decurso do tempo, foram cercadas de cerimônias, ora simples, ora majestosas, todas, porém, convenientes; e de preces adequadas. O que primitivamente foi uso legítimo, posteriormente foi sancionado pela Igreja em virtude do poder legislativo outorgado a Pedro e seus sucessores: "O que ligares sobre a terra, será ligado no céu; o que desligares sobre a terra, será desligado também no céu." (Mt 16, 19.)
A Liturgia é, por conseguinte, de origem divina, parte diretamente e parte indiretamente; deve ser tratada com muito respeito.


§ 3. OBJETO DA LITURGIA.

As ações litúrgicas são múltiplas; apesar disto formam conjunto bem ordenado. Esta unidade interior em todas as manifestações e ramificações do culto tem o fundamento no objeto a que se referem, e no sujeito que as põe em prática. 1. O objeto primário da Liturgia sacra é Deus. (Eisenhofer I, 6; Gatterer, Annus liturgicus, p. 7; Vigourel, Cours synthet., p. 4.) A Ele só compete adoração, a Ele só se oferece o sacrifício da missa. Ora à SS. Trindade, ora a Deus Padre, ora a Deus Filho, ora ao Espírito Santo é que se presta o culto explicitamente. Pela doxologia: "Glória ao Padre, e ao Filho e ao Espírito Santo", é glorificada muitas vezes durante o dia a SS. Trindade. Nas orações da missa, a petição as mais das vezes se dirige a Deus Padre: Omnipotens sempiterne Deus... A Deus Filho são consagradas as festas mais solenes do ano eclesiástico: natal, páscoa, corpo de Deus e outras. O Espírito Santo invoca-se frequentemente, p. ex., no ofertório da missa: Veni sanctificator... Este é o culto latrêutico (de "latria" = adoração). 7. 2. Objeto secundário é: a) o culto dos Santos, e principalmente de Maria SS.: aquele chama-se culto de dulia ou de veneração, este, culto de hiperdulia ou de veneração toda especial. b) o culto dos objetos que têm relação com Jesus Cristo e sua obra de redenção. Tais são, p. ex., as relíquias do santo Lenho, as relíquias e imagens dos santos. É o culto relativo (cân. 1255). c) o culto de pessoas ainda vivas e de coisas sagradas. Ante o bispo, p. ex., se fazem genuflexões, ante o sacerdote, inclinações. De incensação são, julgados dignos não só os clérigos, mas também leigos eminentes e todo o povo. Esta honra concede-se por motivos religiosos e refere-se, em última análise, a Deus. S. Inácio de Antioquia (Ep. ad Trail. 3, 1) ensina: Todos devem honrar os diáconos como a Jesus Cristo, e também ao bispo, que é a imagem do Pai, e aos sacerdotes, como ao senado de Deus. A escritura sagrada diz: Sois... um povo santo. (1 Ped 2, 9.) 8. 3. Assim se explica o culto das coisas sagradas, p. ex.: o ósculo do evangeliário, das velas, dos ramos bentos. Estas honras entendem-se prestadas ao símbolo de Jesus Cristo (evangeliário), ou a Cristo santificador que distribui suas graças pelos objetos bentos. 4. Os sacramentos em geral, as orações, os exorcismos são culto de Deus, porque no seu uso se glorifica a misericórdia, a bondade e a onipotência de Deus. Por conseguinte é Deus o único objeto da Liturgia. Em breve estaremos publicando mais textos sobre a formação litúrgica.